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Publicação Em defesa da comunidade

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Os professores José Maria de Morais, Maura Eustáquia de Oliveira e Ana Maria Rodrigues, com monitores

Um dos principais jornais-laboratórios do país, o Marco completa 45 anos atuando no entorno do Campus Coração Eucarístico

Um jornal para formar jornalistas e contribuir para tornar os vizinhos da PUC Minas cada vez mais bem informados. Foi com esse propósito que, há 45 anos, surgiu um dos principais jornais-laboratórios do Brasil: o jornal Marco, criado pela primeira turma do Curso de jornalismo da PUC Minas, em 1972.

Durante todo esse tempo, o jornal permaneceu fiel aos seus objetivos, estabelecendo fortes relações com moradores das regiões próximas ao Campus Coração Eucarístico. Para tanto, esteve ao lado deles em busca de melhorias para a comunidade e se tornou um importante porta-voz do bairro Dom Cabral e, posteriormente, também das comunidades próximas à PUC Minas São Gabriel, Unidade que dispõe de uma sucursal da publicação.

Paralelamente, o Marco vem cumprindo seu principal objetivo, o de formação prática dos alunos do Curso de Jornalismo, proporcionando-lhes oportunidades de experimentação de novos modos de contar histórias, de participação em movimentos de defesa da liberdade de expressão e a chance de fazer jornalismo num ambiente próximo à realidade das redações de grandes veículos de comunicação.

A ideia da criação do Marco partiu dos alunos de Jornalismo, ansiosos para escrever e assim participar da agitada vida política dos anos 70. Liderados pelo então estudante José Milton dos Santos, hoje professor no Curso de Jornalismo, levaram o assunto ao então diretor do curso, Lélio Fabiano, que gostou da proposta e viabilizou a sua concretização.“O primeiro Marco foi um jornal interno feito pela primeira turma de Jornalismo da PUC e se chamou assim por ser visto por nós, alunos, como um marco na vida da nossa turma”, conta José Milton. No mesmo ano, o jornal passou a circular externamente e priorizou matérias que envolvessem o Dom Cabral.

Porta-voz dos cidadãos

O jornal passou a ser, também, comunitário e, em plena ditadura militar, apoiou inúmeras causas como porta-voz dos cidadãos que temiam reclamar de qualquer coisa ou mesmo fazer qualquer tipo de reivindicação para melhorias no bairro. Logo na primeira edição do jornal, no dia 5 de dezembro de 1972, uma das matérias denunciava a falta de policiamento com o título: “D. Cabral sem Policiamento”. Na segunda edição, outra denúncia que se tornou manchete: “Caixa Econômica Quer Lotear Praça”. Segundo o professor José Milton, o jornal abraçou a causa e fez com que o desfecho da história beneficiasse os moradores do Dom Cabral: “A área foi preservada e hoje é uma das maiores praças de bairro de BH”.

Já o professor José Maria de Morais, há 30 anos no jornal e atual editor gráfico, conta que uma das maiores conquistas dos moradores da Vila 31 de Março, localizada no entorno do Campus Coração Eucarístico, teve o apoio do Marco. “O jornal lutou durante uns dez anos pela construção de uma passarela na BR-262, no trecho do anel rodoviário que apresentava altos índices de atropelamento. O pessoal atravessava a pé aquilo ali; quando o anel foi construído, os atropelamentos eram constantes. Então, nós apoiamos a luta pela construção da passarela e uma série de outras ações aqui no Dom Cabral para melhorar a segurança no trecho. E ganhamos”, ressalta o professor.

Entre 1975 e 1985, o Marco publicou uma série de matérias com títulos impactantes alertando sobre a gravidade do problema. Uma manchete na edição de nº 27 de abril de 1975 dizia: “BR-262: duplicação das pistas, multiplicação das mortes”. Depois de outras abordagens sobre o mesmo tema, uma manchete na edição de nº 34 de 1977 afirmava: “A Vila Exige o Fim do Açougue Maldito”. Três anos depois, na edição nº44 de maio de 1980, uma chamada na capa: “Só Passarela Pode Oferecer Tranquilidade”. Até que na edição nº 73 de abril de 1985, o Marco noticiou o início da construção da passarela, e, na edição nº 76 de agosto do mesmo ano, uma manchete enfatizava: “A Vila Lutou Muito por essa Passarela”.

O vice-presidente da associação de moradores do D. Cabral, Maurício Antônio, há 49 anos no bairro, diz que o Marco até hoje cobre a comunidade. “O jornal é muito importante para o bairro porque está sempre mostrando nossos problemas. Além disso, o Marco continua até hoje ligado ao povo da região, buscando junto a ele suas pautas.”

Formando jornalistas

O Marco, através do empenho de seus editores, procurou, cada vez mais, ampliar as chances de prática jornalística para os alunos. O ex-editor, jornalista Fernando Lacerda, foi repórter do jornal durante a época em que estudou na PUC Minas, e fala sobre a importância deste papel do veículo: “A grande função do Marco, e ninguém pode esquecer disso, é formar jornalistas. Ele sempre teve esse objetivo, que é o de formar, dar a prática e não só ela, mas a reflexão de por que você faz aquilo, ou por que você deixa de fazer, porque o aprendizado ocorre também quando você deixa de publicar uma matéria. É como eu digo: há pautas que são boas pra cair. Isso até virou um bordão muito repetido, ainda hoje, pelos colegas em redações,” relembra.

Já o jornalista Lucas Figueiredo, ex-monitor do Marco, autor de seis livros-reportagens, ressalta: “No Marco, aprendi a fazer jornal, todas as fases dele, da diagramação à arte final, passando pela pauta, fotografia, reportagem e revisão. Acompanhávamos até a impressão. Depois, distribuíamos no bairro, vendo assim a penetração do jornal. Isso foi importante para entender todo o processo”, diz. Lucas passou por importantes veículos de comunicação, entre eles a Folha de São Paulo e a rádio BBC de Londres e conquistou prêmios no jornalismo, um deles ainda no Marco:“Foram muitas matérias. Destaco uma reportagem que fiz junto com André Leite sobre o uso de aço na construção civil, com a qual ganhamos o Prêmio BDMG de Jornalismo (categoria universitária). Foi importante para mostrar que estávamos no caminho certo”, relata.

Futuro do jornal

A professora Ana Maria Oliveira, atual editora do Marco, comenta que os atuais desafios do laboratório são “dar continuidade ao trabalho, com a costumeira qualidade, e criar novas possibilidades para o jornal, já reconhecido em nível regional e nacional”. O professor Ercio Sena, coordenador do Colegiado do Curso de Jornalismo, lembra que seu primeiro contato com o Marco foi quando tinha oito anos de idade. O jornal chegava todo mês à sua casa no Dom Cabral. “Para nós, o futuro é ampliar a vida do Marco, o que já estamos fazendo com a criação de um produto derivado dele, a revista digital Metáfora”. Ercio, quando criança, escreveu ao Marco para reclamar da falta da página infantil que ele publicava. “Querendo elogiar, eu disse que o jornal já fazia parte do status do bairro, só que não sabia escrever a palavra status e escrevi do jeito que entendia. O Marco fez a gentileza de corrigir e publicar certinha a minha carta”, relembra o professor.

Texto
Elisa Senra e Igor Batalha
Monitores do jornal Marco, sob a supervisão da professora Maura Eustáquia de Oliveira
Foto
Raphael Calixto
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